quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O cheiro do meu ralo

Estou eu esperando ser atendida pelo médico. No exato momento lia "Crônica de um amor louco" de Bukowski. Veio de um jeito tão insano aquele cheiro que me consumiu a alma, praticamente desmaiei.
Fiquei procurando de onde vinha aquele cheiro insuportável que agora vinha de tempos em tempos, conforme o vento abafado da tarde. Claro que não fiquei andando de um lado pro outro, eu estava em um local público, tinha que ser discreta e minuciosa para não parecer que o fedo era meu, então fiquei olhando em volta e pensando o que poderia produzir aquele fedo. Descobri o que era quando olhei para o banheiro.
Era antigo. O prédio era antigo, por tanto só poderia ser ele, o ralo! Não tinha dúvidas de que era ele, só poderia ser! Me senti....hãn.....indiferente. "Tanto faz ser o ralo ou o pum de uma pessoa qualquer. Foda-se o cheiro do ralo!", pensei.
Passados alguns minutos comecei a dar aquela risadinha de canto de boca, é que finalmente me lembrei: "O cheiro do ralo". Um filme que tinha visto fazia pouco tempo, e que me comoveu realmente. O engraçado era que eu estava fazendo a mesma coisa que "Lourenço", queria lutar contra aquele cheiro, queria cimentar aquela merda de ralo! Mas ainda bem que teve esse idiota pra fazer antes de mim, pra ver no que ia dar.
No que deu? Bem, pra quem não leu o livro ou não viu o filme, lá vai: ele nadou na merda literalmente! Tudo bem que foi meio engraçado, mas foi nojento pra caramba...
...TEMPO
.................TEMPO
.....................................................TEMPO
..................................................................................TEMPO
.....................................................................................................................TEMPO
Precisei de uns dez minutos pra aquele cheiro sair de mim, sair do meu corpo, mente e coração. Aquilo estava me corroendo. Foi aí que fui finalmente chamada pra ser "analisada" pelo médico.
Quando me levantei fechei a porta do banheiro, uma pessoa me olhou e eu disse "tava um fedo aqui néh, acho que é o ralo". Olhei bem em qual conto tinha parado do livro, era "A máquina de foder". Fechei o livro. Foi aí que lembrei do final da história do filme e agradeci por ainda estar alí, mas longe daquele fedo de hipocrisia.
E você, qual é o cheio do seu ralo? Hãn?

domingo, 19 de dezembro de 2010

Recomeço

Estou aqui novamente, começando um novo blog .Acho que deve ser o sétimo ou oitavo, é que tenho sede de mudança, mas tudo bem...
Queria começar com um dos meus textos escritos na velha máquina de escrever, mas preferi começar por um assunto que meu primo trouxe a tona. A questão de se acomodar com o próprio trabalho ou até mesmo a vida. Então comecemos.

Bem, estamos eu e meu primo conversando sobre a sua faculdade de medicina na UFG. Ele, sempre tímido, me surpreendeu quando ficou revoltado ao perceber que ele após uma aula de anatomia, de ver uma pessoa ensanguentada, comia sem problema algum, alí do lado mesmo, um almoço, uma cochinha...o que fosse.Tinha que se alimentar, não é mesmo?!
Disse ainda que nos primeiros dias olhava as carnes e via que pareciam com aqueles corpos que tinha acabado de manusear. Mas não tinha nada o que ele podia fazer, era aquilo que tinha decidido fazer da vida, e com cada escolha que nós fazemos sempre sofreremos com as consequências.
Pra mim ele não está errado, aliás, podemos generalizar isso. Olhe só para você, com o que se acostumou devido ao seu trabalho, ou até mesmo amigos? Muitas coisas não é mesmo? Acho ainda que esse comodismo é o tal do "mal necessário". Pense como seria sem ele...
Por outro lado, deixamos muitas vezes de sermos nós mesmos por conta da necessidade que temos de sempre responder as expectativas das outras pessoas, nos acomodando e aceitando coisas que para nós são, no paradoxo, inaceitáveis.  Mas talvez as coisas devam ser assim mesmo.
FIM